Macaé: Identidade e Cultura
Uma breve introdução

Miriam de Oliveira Santos
Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Doutoranda em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ

 

Nosso objetivo neste artigo é apresentar os textos da Revista "Minhoca da Terra Nº 1" e também situar os marcos teóricos que orientaram os textos aqui reunidos.  Todos os conceitos utilizados: Identidade, Cultura e Globalização, são controversos e portanto faz-se necessário o esclarecimento sobre o modo como utilizamos tais conceitos.

Identidade é um conceito que abrange tanto a identidade individual quanto a social, é relacional e assim sendo coloca sempre a questão do "outro" do "não-eu", do diferente.  No caso de identidades relacionadas a cidades, o problema do pertencimento é ainda mais controverso, contam só aqueles que nasceram ali, ou podemos incluir os que lá foram criados ?

No caso de Macaé, que conheceu um grande surto de desenvolvimento nos últimos vinte e cinco anos, acompanhado por um proporcional aumento de população, a pergunta aparentemente simples não é fácil de ser respondida: Quem são os macaenses "natos" e quem são os "forasteiros" ?  

Notamos nos textos que compõem esta coletânea diversos posicionamentos sobre a questão identitária, incluindo não apenas um antes e depois da Petrobras, mas principalmente um antes e depois da quebra do monopólio da Petrobras , fato este que mais que "forasteiros" trouxe "estrangeiros".

Em um texto clássico da antropologia Evans-Pritchard (1993) chama a atenção para o fato de que todo grupo visto de fora é homogêneo e visto de dentro é segmentado.  Por isto em Macaé observamos na realidade dois pares de oposição: Macaenses e Não-Macaenses e Brasileiros e Estrangeiros.

Também perpassam alguns dos textos uma certa nostalgia e idealização do passado, neste caso os pares de oposição são passado/presente, tranqüilidade/agitação em outros textos escolhidos como contraponto chamam a atenção pela idealização do futuro e a identificação das mudanças com os conceitos de desenvolvimento e progresso, neste caso observa-se a introdução do conceito de globalização sempre assinalado de maneira positiva.

As divergências em torno da globalização, que em muitos dos artigos aqui reunidos é tratada como se  só houvesse começado à partir da quebra do monopólio da Petrobras, explica-se pelo fato deste ser um dos conceitos mais controvertidos de nossa época.

Segundo Ribeiro (2003) "Globalização é o incremento da circulação em escala planetária de pessoas, mercadorias e informações."Apesar de haver um certo consenso sobre o fato de que a Globalização é um processo que acelerou-se à partir das grandes navegações do século XV e tornou–se irreversível com a revolução das comunicações no século XX , ainda discute-se muito se este é um fenômeno bom ou ruim.  

Sociedades, Identidades e Culturas são dinâmicas por natureza, é impossível mantê-las estáticas, como é impossível parar o tempo. Para terminar fazemos nossas as palavras de Ortiz (1985:8): "Toda identidade é uma construção simbólica", isto é, "não existe uma identidade autêntica, mas uma pluralidade de identidades construídas por diferentes grupos sociais em diferentes  momentos históricos."

Da mesma forma podemos afirmar que não existe uma cultura "autêntica" ou uma sociedade "ideal", fazemos parte da construção da identidade, da cultura  e da sociedade e portanto a imagem que temos deles é um reflexo daquilo que somos, representamos e pensamos.

Os textos aqui reunidos refletem esta multiplicidade de imagens e opiniões, refletem também a convicção metodológica de que só através da variedade podemos representar o mais fidedignamente possível este mundo multifacetado em que vivemos.

 

Referências Bibliográficas

ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade Nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985

EVANS – PRITCHARD, E. E. Os Nuer. São Paulo: Perspectiva,1993

RIBEIRO, Gustavo Lins .Outras globalizações. Apud in: JC– email de  16/07/2003