Macaé, produtora de negócios

Paulo Francisco Caetano
Bacharelando em Comunicação Social
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora

Resumo

O objetivo deste artigo consiste no estudo da história de Macaé, da análise do panorama contemporâneo do município e sua influência na região a fim de fazer um paralelo entre os modelos econômicos vigentes em cada época, além de ressaltar a participação da cidade no processo de globalização.

Palavras-chave: Macaé, Petróleo, Globalização

 

Abstract

The objective of this article consists of the study of the history of Macaé, the analysis of the contemporany panorama of the municipal district and your influence in it's region in order to do a parallel among the effective economical models in each time, besides pointing out the participation of the city in the globalization process.

Key Words: Globalization, Petroleum, Macae

 

A descoberta do campo de Garoupa, em 1974, marcou o início da produção de petróleo na Bacia de Campos e, a partir de então, Macaé surgiu no cenário petrolífero nacional como centro da mais importante região produtora do país.

A produção de petróleo na costa fluminense mostrava-se promissora não obstante o conturbado momento o qual o mundo se deparava. A sociedade internacional sofria os efeitos da crise gerada pelo colapso do sistema de Bretton Woods; o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, arrastando com ele vários aspectos que influenciaram as relações entre países dos blocos comunista e capitalista; sofria profundamente o aumento substancial dos preços internacionais do barril de petróleo, estabelecidos pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

Hoje Macaé representa mais de 80% da produção nacional e 45% da produção de gás natural, colocando-se entre as mais importantes cidades da América Latina e, segundo pesquisas realizadas pela revista Exame, o município está entre as 100 melhores cidades brasileiras para se investir e, também, como a cidade que mais se desenvolve no estado do Rio de Janeiro.

A partir da década de 1970, a cidade abriu definitivamente as portas para o capital estrangeiro, trazendo com ele tecnologia, culturas diferentes e o intercâmbio comercial, que interagiram com a região e a colocaram no cenário do mundo globalizado.

Panorama histórico

Durante o século XVII, é fundada Macaé, em uma época na qual o esforço de interiorização do Brasil conseguia alcançar progressos lentos, porque havia grande dificuldade de acesso às distantes regiões interioranas, já que somente podiam contar com as vias de transporte naturais, como rios e canais. Por isso, os povoados e as grandes fazendas que se formavam em torno destas vias baseavam-se na pesca, agricultura e extração de madeira. A ocupação destes povoados teve profunda influência dos Padres Jesuítas que fundavam confrarias, santuários, aldeias e vilas, com a missão de civilizar e evangelizar.

As primeiras atividades econômicas de Macaé foram a pesca e a agricultura, feitas na Fazenda de Sant`Ana (conhecida também por Fazenda de Macaé), cujas produções eram escoadas pelos rios por canoas fabricadas a partir de troncos de árvores. A agricultura alastrou-se para outras regiões descobertas próximas da fazenda, acarretando nas fundações dos Distritos de Neves, Cachoeiros de Macaé, Sana e Frade, levando Macaé à categoria de Vila, devido ao crescimento econômico.

No início do século XIX houve a exploração de madeira traçada em tábua, utilizando apenas a força humana e serras de aço. A primeira usina de açúcar da América do Sul foi fundada em 1878 no Distrito de Quissamã, proporcionando seu grande desenvolvimento e do município.

A Vila de São João Batista de Macaé diversificou sua produção cultivando cereais, feijão, arroz, porcos, cabritos, fumo, ovos, aves dentre outros, e em meados do século, iniciou o cultivo de café, que alavancou a economia do município. Surgem também as primeiras fábricas de tamanco, famosos pela leveza e qualidade do couro que possuíam, entretanto, extinguiram-se na década de 1950.

Em 1813, Macaé obtém a emancipação político-administrativa e, em 1920, foi eleito o primeiro prefeito do município, Lobo Júnior.

Macaé era o maior produtor de cereais do estado do Rio de janeiro, o que propiciou vários investimentos do governo estadual, devido às grandes somas de impostos arrecadados e pelo volume dos produtos que eram exportados. Uma das obras realizadas foi o Canal Macaé-Campos, inaugurado em 1848, já que as mercadorias eram transportadas para a cidade de São Salvador de Campos dos Goytacazes por meio de burros, e a crescente produção precisava de uma via mais barata e que pudesse transportar maiores quantidades.

Além do café, o município refinava sal vindo de Cabo Frio e o canal possibilitou a descoberta de novos mercados através do Rio Paraíba. O canal Macaé – Campos configurou-se no primeiro ciclo de progresso de Macaé.

Em meados de 1830, surgiu o ciclo do café tornando o Brasil o primeiro produtor mundial graças às culturas do Vale do Paraíba e do Planalto Paulista e, apesar do açúcar ter sobressaído bastante na economia do país, o café firmou a sua base econômica. Entretanto, em Macaé a cultura do café iniciou-se no fim do século XVIII e intensificou-se a partir de 1910, tornando o município um dos maiores produtores do estado em 1920. Com a fundação da Associação Comercial e Industrial de Macaé e da inauguração da Agência do Banco do Brasil, os produtores investiram na produção, beneficiando a exportação do café, fazendo com que Macaé chegasse ao ápice do seu progresso até 1929.

Devido à quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929, Getúlio Vargas ordenou a queima de milhões de sacas de café, fazendo com que Macaé perdesse mais de dois terços de seus cafezais. Com esta medida, no ano seguinte, ocorreu o fim do ciclo do café no município.

O ciclo que alavancou o desenvolvimento de Macaé e a colocou definitivamente na rota dos negócios nacionais e internacionais foi o do petróleo. Os primeiros estudos geofísicos na bacia de Campos aconteceram no fim da década de 1960. Na década de 70, com a necessidade do governo em aumentar a produção nacional de petróleo, devido à baixa das reservas cambiais, já que importava grande parte do óleo consumido, a Petrobras investiu intensamente em pesquisa e obteve, a partir de 1974, as descobertas de reservas de petróleo na bacia de Campos.

Em 1977 começa a produção na bacia e, no final da década, o Brasil produzia 165.500 barris de petróleo por dia, dos quais 34% eram extraídos do mar. Na década de 1980, o governo federal buscou no exterior investimentos e tecnologia para aprimorar a produção da bacia de Campos, o que permitiu ao país bater sucessivos recordes de produtividade. Além disto, foram descobertos vários outros campos, como os de Albacora em 1984 e Marlim em 1985, os primeiros campos gigantes da bacia.

Na década de 1990, o campo do Roncador propiciou mais um recorde, o de produção em águas profundas, a 1.853 metros de profundidade, um feito importantíssimo, já que nenhuma companhia no mundo havia passado dos 500 metros no início da década de 80. E é criada, em 1998, a Petrobras Transporte S.A. – Transpetro com sede em Cabiúnas (Macaé), com a função de viabilizar o transporte e armazenamento de petróleo e derivados, gás e granéis.

A abertura de Macaé à globalização

O conceito de globalização vem sendo estudado e amplamente debatido desde a conturbada década de 70, as fronteiras político-administrativas geridas pelos Estados já não são mais os fatores de influência na economia de cada país, mas sim um modelo internacional de intercâmbios entre importantes setores da indústria e dos serviços. A economia globalizada produz a interdependência econômica e sistemática dos mercados e de seus países, dentro de um sistema autônomo e aberto a um plano realmente global, já que a região onde há diversas indústrias com capital internacional, como é o caso da bacia de Campos, o fluxo de informações, divisas, cultura e decisões econômico-sociais ficam à mercê dos grupos internacionais.

Desde o início da exploração de petróleo na bacia de Campos até hoje, a entrada de capitais e investimentos é cada vez mais crescente. No período entre 1970 a 1983, haviam 368 empresas instaladas em Macaé, de 1984 a 1996, devido às descobertas de novos poços e da confirmação do potencial da bacia, o número subiu para 1.560, e de 1997, marcado pelo fim do monopólio da indústria do petróleo no país, a 2001, em apenas 5 anos, o total de empresas atingiu a quantidade de 2.566.

A economia gerada na cidade cresce 14% ao ano, enquanto que os índices nacionais apontam um desempenho de 2% no mesmo período. O município, hoje, atrai o interesse de investidores de todo o mundo, nos ramos petrolíferos, de serviços, imobiliários, hoteleiros, tecnologia e culturais.

No que se refere ao setor petrolífero, empresas internacionais como a americana Shell, uma das mais interessadas na exploração e comercialização do óleo brasileiro, participa de 14 blocos produtores de petróleo, dos quais cinco são operados pela empresa, a Halliburton Energy Services, que implementa novas tecnologias na exploração em águas profundas, aplicou cerca de US$ 2,6 bilhões no projeto de Barracuda Caratinga e a BHP Biliton, que planeja aplicar US$ 12 milhões até 2005, são exemplos das inúmeras empresas que investem em Macaé.

A busca cada vez mais intensa das empresas pela participação neste mercado intensamente lucrativo, as perspectivas de mais descobertas de poços e consequentemente de maiores volumes de produção, a vinda de novas empresas internacionais com o objetivo de explorar e produzir petróleo e a política da Petrobras de terceirizar vários de seus serviços, são responsáveis pela instalação e ampliação, na cidade, de inúmeros fornecedores de bens de produção ou serviços, com o objetivo de servir as empresas operadoras e a estatal brasileira.

Já o setor imobiliário possui uma supervalorização do solo macaense, em que o metro quadrado de um lote no bairro Novo Cavaleiros, principal área de concentração de empresas na cidade, está em torno de R$ 110,00 hoje, o que equivale a quatro ou cinco vezes mais do que era cobrado há cinco. Como a procura é muito grande, o interesse das empresas de manter suas instalações próximas de seus fornecedores ou parceiros e por estar inserida no centro das atividades do setor, elas pagam o preço estabelecido pelo mercado para se instalarem.

O ramo de hotelaria cresce tanto quanto a produção em alto mar, na expectativa de investimento da prefeitura em obras de infra-estrutura na ordem de R$ 300 milhões, até 2004, vários grupos brasileiros e estrangeiros estão construindo hotéis na cidade, entre os internacionais destacam-se o Four Points Sheraton, o Comfort Suites e o Íbis.

Na área tecnológica, além do que é investido pelas empresas na exploração de óleo, a cidade atrai pessoas de todo o mundo, tanto pelo Laboratório de Tecnologia e Exploração de Petróleo (LENEP), único na América Latina e um dos mais avançados do mundo, quanto pelo Centro Macaé de Convenções, o Macaé Centro, que é o segundo maior do estado e abriga grandes eventos, com a Feira Brasil Offshore, evento internacional da área petrolífera que se realiza a cada dois anos na cidade.

E em nível cultural, as experiências proporcionadas pelo intercâmbio com pessoas de diversas nacionalidades e costumes, somadas à exigência cada vez maior de funcionários e colaboradores que falem mais de uma língua, privilegiando-se o inglês, fazem com que Macaé possua numerosas instituições responsáveis pelo ensino de idiomas. Desta forma, amplia-se cada vez mais a comunicação entre o macaense e os incontáveis estrangeiros que se instalam no município, vindos por causa das oportunidades geradas pelo setor petrolífero e pela abertura ao mundo globalizado.

Eis a questão: limites da governabilidade

Em uma cidade ou região que se abriu à globalização, como Macaé, até aonde vão os limites da governabilidade? Antes do milagre do ouro negro, em que a outrora Vila de São João Batista de Macaé dependia quase que exclusivamente da agricultura, pecuária e da pesca, o município sobrevivia sobre a tênue linha entre o desenvolvimento e o fracasso econômico, onde o governo era o ditador das regras.

Os ciclos do café e da cana-de-açúcar, a construção e utilização do canal Macaé – Campos, foram dentro de sua respectiva época importantíssimos para o desenvolvimento da cidade e região, entretanto, tanto suas implantações quanto sua extinção aconteceram devido a vontade política de cada governo.

Apesar do conceito de globalização ser recente, o que Macaé sofreu, principalmente com relação ao desaparecimento total das lavouras de café, foram resultados de conseqüências de acontecimentos internacionais, o que não se pode afirmar que os limites de influência internacional na região somente se romperam na segunda metade do século XX.

As medidas que fizeram com que um negócio prosperasse ou não na cidade tinham dependência direta do poder público. A partir do momento em que o petróleo foi descoberto e explorado, principalmente no final do século XX, estas medidas já não dependiam exclusivamente da vontade dos governos, mas também do poder que as empresas internacionais exercem sobre a economia da região e do país, juntamente com o modelo de globalização que consequentemente representam.

Se o governo da cidade investe, por exemplo, em infra-estrutura para receber eventos internacionais, ampliação do aeroporto e na vinda de grandes grupos internacionais do setor de hotelaria, é porque o capital estrangeiro, que na cidade circula, força com que todo o panorama do município se modifique, e desta forma, credenciando os grupos econômicos com o poder de dar as cartas, fazendo com que aquela velha Vila de São João seja guardada apenas na lembrança.

Ao lado de todo desenvolvimento e aspectos positivos que a presença de mais de 2 mil empresas de capital nacional e internacional possam proporcionar para a cidade e região, existem pontos negativos que caminham paralelamente à globalização. O desemprego, marginalização e a violência, já que juntamente com os grandes investidores, desembarcam na cidade trazendo, também, caravanas de trabalhadores em busca de emprego na tão divulgada cidade do petróleo, mas que exige mão-de-obra qualificada. São fatores que, neste caso, cabem ao poder público gerar estruturas para atender às necessidades sociais.

O mundo moderno e globalizado exige das empresas muita competitividade, e numa região em que literalmente jorra petróleo, o interesse pelo estabelecimento de empresários e seus negócios é cada vez maior, independentemente dos impactos sociais e do poder econômico e cultural que as empresas exercem no município, rompendo os limites da governabilidade do poder público, fazendo com que a cidade se torne uma verdadeira produtora de negócios.

 

Referências Bibliográficas

BORGES, Armando. História da Economia de Macaé. Editora Damadá

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HIRST, Paul & THOMPSON, Grahame. Globalização em questão. Petrópolis: Editora Vozes

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PARADA, Antonio Alvarez. Histórias da Velha Macaé. Macaé, 1980

www.petrobras.com.br, acesso em 19 e 20 de junho de 2003

www.macae.rj.gov.br, acesso em 19 e 20 de junho de 2003