Macaé no Caminho da Globalização

Mariana Aguiar de Barros Bittencourt
Bacharelanda em Comunicação Social
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora

Resumo

Com este artigo pretendo analisar o histórico da globalização e o desenvolvimento do município de Macaé, a partir da chegada da Petrobrás, seus pontos positivos e negativos e como esta, mudou a rotina dos moradores da cidade.

Palavras-chave: Petróleo, Desenvolvimento, Globalização

 

ABSTRACT

Abstract
The article tells the global world’s history and Macae’s development, when Petrobrás arrived on the town, the negative and positive points and how the oil change Macae’s population’s daily round.

Key Words: Oil, Development, Global World

 

O que é Globalização ? Internacionalização? Mundialização ? Americanização? Estas são perguntas que muitas pessoas fazem quando se deparam com estas palavras que estão em evidência nos últimos anos. Mas o que são estas “coisas”, que estão todos os dias nos jornais, revistas e na boca das pessoas?

Na verdade essas são denominações novas, para um processo antigo de organização de economias e empresas em uma escala global.

No século XIX falava-se em imperialismo, na primeira metade do século XX em internacionalização das empresas. O destaque dos anos 50 e 60 eram as multinacionais, que começavam a tomar conta do mundo. Nos anos 70 e 80 eram os bancos e financeiras, que cresciam a custa da dívida externa dos paises. E a década de 90, caracterizou o “boom”da globalização , juntando todos os outros, que ganharam força com a liberação comercial e a criação da OMC ( Organização Mundial de Comércio)

É quase impossível dar uma definição exata de globalização . Para os mais otimistas é um processo de interligação econômica e cultural de todo o planeta, devido principalmente aos mercados financeiros e as redes de informação, quebrando todas as barreiras institucionais culturais e econômicas . E é claro que há também outros tipos de definições, como:“a globalização é sobretudo financeira, animada por uma disponibilidade sem precedentes, de dinheiro ocioso num mundo que cresce pouco, desemprega muito e convive ainda, com formas cada vez mais sofisticadas de exclusão social e desigualdade tecnológica.” um pouco mais radical e negativa, dada por Gilson Schwartz*.

Infelizmente não se pode descartar os aspectos negativos da globalização, que em muitos momentos, são até mais fortes que os positivos. Ao mesmo tempo que o mundo globalizado é um modelo de tecnologia de ponta, ele exclui as pessoas que não se enquadram. Uns ganham muito, outros um pouco ou muito menos e outros perdem, porque os custos de produção são menores e a tecnologia grande, a mão-de-obra que não é, ou, é pouco qualificada, é descartada, “sem dó nem piedade”pessoas são trocadas por maquinas. A conseqüência disso é que os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, porque a globalização vem concentrando indiscriminadamente a renda nas mãos da minoria rica.

A hegemonia do capital financeiro é também uma das tendências negativas da globalização, pois um volume cada vez maior do capital acumulado é destinado a especulação , mesmo em tempos de miséria, exclusão e desemprego. De um dia para o outro o capital pula de país em país, produzindo instabilidade e desequilíbrio entre os mesmos.

Outra delas é a liberalização do comércio, porque pode gerar a exploração do trabalho. O trabalho infantil e o trabalho escravo são muitas vezes tratados como vantagens em alguns setores comerciais, não se pagam encargos trabalhistas a crianças e nem a escravos...

As conseqüências da globalização desestruturalizada são perversas e imediatas, elas se mostram no desemprego, na miséria que vem aumentando, na privatização das empresas... Tudo por causa da ganância dos poderosos que detém as maiores fortunas, do mundo globalizado.

Mas deixando um pouco de lado os conceitos negativos, a globalização também tem o seu lado bom. A velocidade da informação e as facilidades de comunicação. A rápida evolução e a popularização das tecnologias têm sido fundamentais para a agilização do comércio. Houveram também novas oportunidades de emprego em várias áreas, como na informática, que vem empregando por todas as partes do planeta. E uma das melhores coisas que a globalização trouxe, foi o conhecimento, que se tornou o fato de diferenciação entre os trabalhadores.

Diante disso, escolas e Universidades têm um grande desafio pela frente, que é preparar o aluno, futuro profissional, com aulas de informática e idiomas como inglês e espanhol, cursos técnicos e de especializações , para a nova realidade mundial. Quem não se enquadra esses novos padrões é excluído do mercado de trabalho e se torna mais um, dentre os milhares de desempregados do mundo. Esses são exemplos da dimensão que a globalização vem tomando a cada dia.

Todos esses pontos positivos e principalmente os negativos nos fazem pensar em, o que pode acontecer a uma cidade do interior, quando ela é tomada de surpresa por esse turbilhão de informações e novas tecnologias, que é a globalização? Qual é a reação dos moradores com a chegada de empresas multinacionais?

Foi exatamente isso que aconteceu com a cidade de Macaé, localizada no litoral do estado do Rio de Janeiro, com a chegada da Petrobrás na década de 70.

Macaé era uma cidade do interior, calma, ruas de paralelepípedo e até mesmo de terra batida, vivia basicamente de pesca, agricultura e das atividades ferroviárias da “Estrada de Ferro Leopoldina”.

Com a descoberta do petróleo, a cidade passou a ser a sede da Petrobras para a Bacia de Campos, fato que desencadeou todo o processo de globalização na cidade, marcando profundamente seus moradores.

Com as atividades relacionadas ao petróleo, Macaé começou a mudar seus costumes e suas características genuínas. Além da Petrobras outras empresas do ramo se instalaram na cidade, desbancando assim os setores da economia que predominavam, como a agropecuária e a pesca, que é uma das mais antigas, mas teve de começar a conviver com a grande empresa, que diminuiu consideravelmente a área de pesca, por causa de plataformas, rebocadores e barcos, que tomaram conta do ambiente pesqueiro.

Mas contrapondo esses dados, essas plataformas geram 7.000 empregos diretos e 20.000 indiretos, com isso comércio e serviços também levam vantagem, pelo crescimento das indústrias.

No início da década 70, Macaé tinha uma população de 30.000 habitantes, com a chegada da Petrobrás esse número pulou para 40.000 e hoje tem uma população de aproximadamente 200.000, entre moradores fixos e flutuantes.

Desde a instalação da Petrobras em Macaé, mais de 4.000 empresas se instalaram na cidade, entre elas estão as empresas de offshore nacionais e internacionais, que prestam serviços a Petrobras, as comerciais e grandes grupos como Sendas, Mc Donald’s e Vésper. Mas não é só isso, o setor hoteleiro se prepara para a inauguração de hotéis de porte internacional, além dos já existentes.

Outro grande empreendimento foi a construção do centro de convenções, o MacaéCentro, construído para sediar a segunda edição da Feira BrasilOffshore, voltada para fornecedores de equipamentos e serviços, ligados a área de exploração de petróleo. Consolidando a cidade definitivamente na “rota do ouro negro”. A feira trouxe para Macaé 470 expositores de todas as partes do mundo. Proporcionando um intercambio cultural dos mais produtivos.

A prefeitura tem investido na cidade, obras para a melhoria da infra –estrutura, investimento em educação, Macaé está se tornando também muito conhecida pela grande quantidade de vagas nas escolas, e pelos prêmios que ganhou nesse setor, a área de saúde também teve crescimento significativo, com a chegada dessas empresas.

O setor de turismo também tem tido muitos incentivos, devido às belezas naturais do município , que tem praias, montanhas e cachoeiras. Lugares como Sana, Frade e Glicério – vilarejos da Serra Macaense - já contam com uma estrutura própria para o turismo, pousadas e acesso asfaltado, já fazem parte da vida dos moradores e visitantes da região. Mas essa modernidade repentina, não agrada a todos, os moradores e freqüentadores mais antigos se sentem invadidos por multidões que sujam e enchem seus recantos, antes de muita paz e calmaria. Esse e um dos reflexos da globalização na cidade, paginas na internet e reportagens em jornais e revistas sobre esses paraísos ecológicos, trazem pessoas de todos os lugares do país e do mundo, estimulando o turismo e ao mesmo tempo deteriorando-o.

Com todas essas mudanças, Macaé vem ostentando muitos títulos, manchetes dos mais renomados jornais do país mostram: “Macaé, a próspera capital do petróleo”, “O Texas brasileiro” , “Macaé colhe os frutos lucrativos do petróleo”, “Macaé, capital do emprego”.

É verdade, mas junto com a riqueza e o glamour do petróleo, Macaé tem passado por muitos problemas, causados pelo enorme crescimento desordenado. Os preços dos serviços aumentam abusivamente a cada dia, alugar casas em áreas de classe média é quase inviável, para quem tem família para sustentar, e um salário médio.

Com a chegada das empresas internacionais e a alta do dólar, trabalhadores de todas as partes do mundo se instalaram na cidade e suas empresas multimilionárias, pagam todas as suas despesas e a qualquer preço, aumentando o valor dos aluguéis.

A cidade está sendo invadida por americanos, escoceses, chilenos entre outros, homens, que em geral vem sem suas famílias, ficam em pousadas ou em “repúblicas”de luxo, pagas por suas empresas, evidentemente, e querem diversão durante a noite. Estes dados têm dois significados distintos, mas que se assemelham em um ponto: aumento. Preços exorbitantes em bares e restaurantes, localizados principalmente na Praia dos Cavaleiros- um dos pontos turísticos da cidade- , freqüentados por todos os moradores da cidade. E, um grande aumento do índice de prostituição.

Esses “gringos” tomaram conta da cidade e a transformaram num antro de prostituição, em plena luz do dia. Até nos lugares mais familiares da cidade, as prostitutas têm marcado “o seu ponto”, atrás dos seus clientes “preferidos e mais bondosos”.

Além de estimularem altas dos preços e prostituição, os empregados das multinacionais ainda tiram o emprego dos macaenses. Essas empresas se instalam aqui e trazem seus empregados das suas cidades de origem.

Apesar da cidade ser denominada como uma das capitais de emprego, existem muitas pessoas que estão excluídas desse quadro. O potencial de investimentos é muito bom, mas ainda faltam muitas coisas, para Macaé se tornar esse paraíso que vem sendo pintado pelos meios de comunicação. Falta qualificação para os macaenses, faltam faculdades no município.

Por muitos anos, só cursavam o ensino superior os filhos de pessoas ricas da cidade, que tinham condições de bancar os estudos, nos grandes centros do Estado. Hoje as coisas são um pouco diferentes, mas ainda faltam oportunidades para quem sem condições , permanece em Macaé. Muitas dessas empresas buscam qualificações, que as pessoas que moram aqui e não puderam cursar faculdades, não tem. E acabam buscando esse tipo de profissional em outros municípios e até mesmo em outros paises. Por isso há uma população flutuante tão grande.

Não se pode negar que a chegada Petrobras e as outras empresas do ramo, trouxeram um grande desenvolvimento para o município, mas trouxeram também muita dor de cabeça para os moradores mais tradicionais da Princesinha do Atlântico , como Macaé também é conhecida. A calma e o aconchego da cidade foram substituídos pela globalização.

 

* Gilson Schwartz é Diretor Acadêmico da Cidade do Conhecimento, projeto do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. É editorialista e colaborador da equipe de articulistas da Folha de S. Paulo desde 1983. (Voltar)

 

 

Referências Bibliográficas

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Disponível em : www.tripodmembers.com. Acesso em : 18 de janeiro de 1998
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