Globalização a todo gás

Deisidi Bovareto Machado
Bacharelanda em Comunicação Social
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora

RESUMO

Macaé é uma cidade do interior do estado do Rio, que conta com uma população aproximada de 180 mil habitantes, sendo que 30 a 40 mil desses habitantes são flutuantes, ou seja, pessoas que moram na cidade apenas por algum pequeno período em virtude de trabalho.

Palavras-chave: Globalização, população flutuante, trabalho

 

ABSTRACT

Macaé is a town on the coast of the state of Rio de Janeiro, that counts with an approximate population of 180 thousands inhabitants. It is estimated that among 30 thousand to 40 thousand inhabitants of these are note based on the town, in other words, people that just live in the city for a small period, due to their jobs.

Key words:Globalization, floating population, work

 

Sabemos que a globalização afeta o mundo. Este trabalho visa uma reflexão sobre os efeitos da globalização na cidade de Macaé. Porém a nossa reflexão se dará de acordo com as mudanças que hoje a sociedade macaense vive por conseqüência da presença da Petrobras. Não há como falar em Macaé sem falar da Petrobras, pois esta colaborou e ainda colabora para o seu crescimento e desenvolvimento, entretanto trouxe consigo alguns prejuízos sociais.

Aproveitamos também para uma reflexão sobre os desgastes na cidade causados pela presença de tantas pessoas e empresas vindas por oportunidades de trabalhos e a responsabilidade sobre os administradores da cidade, relativas as mudanças ocorridas.

Nascida teoricamente (pois alguns livros deixam dúvidas) em 1813, quando passou a ser vila, e logo depois cidade. Suas principais lavouras eram a cana-de-açúcar, laranja, tomate, café, mandioca, banana, feijão, batata-doce, milho, arroz e abacaxi e pecuária desenvolvida. Hoje a "Princesinha do Atlântico" – como é carinhosamente chamada – a cidade de Macaé é um dos municípios que mais contribui para a geração de riquezas no estado do Rio.

Em 1974, com a descoberta do campo um produtor, ampliou-se as pesquisas que descobriram poços de exploração, a Petrobras então, aqui se instalou.

Com o slogan "Macaé a todo Gás", promovido pela prefeitura, que vem buscando um trabalho de parceira junto às empresas do ramo petrolífero, a fim de proporcionar um maior desenvolvimento, a população em muito tem sido beneficiada, contudo, como todo progresso tem seus efeitos, em Macaé esses efeitos não diferem.

Imaginar Macaé sem a Petrobras, para quem acompanhou esse desenvolvimento, é pensar numa cidade pequena e pacata.

Como todo o mundo hoje, a globalização está em evidência. Como diz no livro "Globalização em questão"

 

"Costuma-se dizer que estamos em uma era em que a maior parte da vida social é determinada por processos globais, em que culturas, economias e fronteiras nacionais estão se dissolvendo". (Hirst & Thompson,1998:13).

 

Macaé, entretanto, pode se dizer que se antecipou a esse processo pós-moderno, pois muito antes de tanto se falar em globalização, a cidade já era um abrigo de holandeses, escoceses, ingleses, norte-americanos, filipinos entre outros, que por terem especializações em áreas específicas vinham para a cidade cooperar com o funcionamento das novas tecnologias.

Provavelmente, com tantas experiências de visitantes à cidade, desde a época de colônia, quando abrigou importantes colonos que a visitaram, onde hoje é o Tradicional Colégio Castelo, Macaé é uma cidade bastante hospitaleira. Há quem diga que Macaé é uma ótima madrasta mas, como mãe deixa à desejar. De certa forma sim, pois, infelizmente, por causa de brigas políticas, a cidade foi prejudicada. Um bom exemplo disso é o campo universitário que em passos curtos vem se expandindo. Atualmente, a maioria dos jovens da cidade, sai para cidades vizinhas a fim de se graduarem. Em virtude dessa carência macaense, muitos se encontram desempregados. Existe uma grande oferta de emprego, mas falta especialização.

Cada dia que passa, recebemos novas pessoas vindas de todo o mundo. Em sua maioria porque ouviu dizer que Macaé tem grande oferta de emprego. Chega aqui e se não tiver as habilitações solicitadas para o cargo, ficam perdidos pela cidade.

Recentemente, Macaé tem sido destaque em jornais nacionais como "O Globo" e "Jornal do Brasil", e conforme cita o site da Prefeitura, também recebeu destaque na "Exame". Uma das últimas matérias sobre o município no Globo tratava da "petrodolarização" termo utilizado pelo jornalista Fábio Nascimento sobre os efeitos da globalização na cidade. Fazendo também referencia aos cultos celebrados em inglês para alcançar as pessoas que vem de fora. Por reconhecer que a cidade está cada vez mais habitada por outras nacionalidades, o pastor Daniel de Almeida decidiu por assim realizar alguns cultos, que além de poder atender aos visitantes colaboraria com uma melhor fluência de seus jovens.

A revista "Exame" Em 2001, Macaé foi reconhecida como a 44º município em oportunidades de negócios, segundo pesquisa da Simonsen Associados.

Outro destaque dado no "Jornal do Brasil, se deu em virtude de 5 grandes redes de Hotéis, estarem projetando novos prédios na cidade.

Todo esse marketing da cidade, atrai cada vez mais pessoas. As oportunidades de emprego divulgadas pelos jornais e revistas incentivam a migração à cidade.

Macaé sempre se mostrou como uma grande acolhedora. A Brasil Offshore, que teve o Centro de Convenções construído para abriga-la, foi o retrato do que Macaé é hoje. Palco de várias empresas estrangeiras, havia mais de 40 empresas que vinham somente da Grã-Betanha.

Todavia, todo desenvolvimento tem sido também conseqüência de muitos desgastes. Pensar em trabalhar na cidade sem curso de inglês é uma tarefa difícil, essa é uma das conseqüências mais nítidas da globalização a todo gás. Outro desgaste que a população macaense tem tido está relacionado à falta de estrutura que a cidade tem para tanto crescimento. O trânsito já está desagradável, pois as ruas da cidade não têm estrutura para tantos carros.

A atividade petrolífera atraiu muitas empresas com mão de obra especializada, isso gerou um mercado imobiliário supervalorizado e aqueles que não tinham renda suficiente para suportar iniciaram as invasões nos manguezais e áreas de restinga. Assim iniciou o crescimento desordenado da cidade. O desenvolvimento social não acompanhou o desenvolvimento econômico e por isso hoje a cidade está inchada.

O crescimento gerado pela Petrobras vem com o tempo descaracterizando a cidade que aos poucos vai deixando de apenas uma pequena cidade do interior do Estado e vem sendo famigerada mundialmente. Exemplo de que isto é um fato, a Brasil Offshore, como já citamos, uma das três maiores feiras da área petrolífera no mundo, atraiu gente do todos os lados mundo, visando oportunidades de negócios.

Há um tempo todas as pessoas de Macaé se conheciam, tinha uma integração entre a população como é de costume às cidades pequenas, hoje, isso não existe mais, pois há uma gama de pessoas vindas de todos os lugares.

Outro fator que é bastante relevante e que vem descaracterizando a cidade e alguns bairros estão relacionados ao meio ambiente, que é preocupação de muitos biólogos na cidade. Alguns bairros como Imbetiba que abriga hoje a Petrobras, e o Parque Aeroporto que abriga o Aeroporto da cidade, sofreram grandes mudanças. A Imbetiba que tem sua praia hoje, com um visual bastante transformado pela construção do porto petrolífero. Os cais e espigões nela construídos provocaram o recuo do mar, e com a chegada dos navios, a poluição da praia motivou a população a abdicar de banhos. No Parque Aeroporto, o frenético sobe e desce de helicópteros, levando e trazendo pessoa na rota de Macaé x Plataformas, vem gerando uma poluição sonora aos moradores do bairro, e que vem sendo ampliado devido ao grande movimento e necessidades de vôos destinados ao Rio de Janeiro.

Macaé cresce e a violência também. Infelizmente todo progresso tem suas conseqüências boas e más, e a violência, prostituição e marginalização, tem sido resultantes deste processo de desenvolvimento. O consumo de drogas como em cidades grandes e mortes motivadas pelo tráfico estão quase todos os dias manchetes dos Jornais da Cidade. As ruas já estão cheias de prostitutas, mas ainda não como em cidades grandes, que se vêem a luz do dia. Nos jornais, há pouco tempo abriu espaço para classificados referentes a programas.

Como disse antes, o mercado imobiliário supervalorizou, e não somente o mercado imobiliário, mas todo o mercado macaense supervalorizou, fazendo com que Macaé que tenha um custo de vida muito alto. Todavia, quando as pessoas de outras cidades ouvem sobre oportunidades de emprego na cidade, são motivadas á migração, não pensam duas vezes e quando chegam, se deparam com a realidade um tanto absurda. Em sua maioria, sem o preparo para esse fato, após várias tentativas sem sucesso de recolocação no mercado, muitas vezes não tem como voltar a terra de origem e passam a viver uma vida difícil. Hoje, as ruas de Macaé, tem cada dia mais, pessoas marginalizadas. Tem sido comum deparar-se com mendigos em uma esquina ou outra.

A princesinha do Atlântico tem sido base para o crescimento de muitas empresas. Tantos as locais como as que vêm de fora para aqui se estabelecer. Muitas empresas que possivelmente nunca ouviram falar em Macaé, atualmente sabem, que a cidade oferece grandes oportunidades de negócios.

Uma das últimas empresas a se instalar em Macaé por conta da Petrobras foi a multinacional Elpaso, que construiu sua usina termoelétrica Macaé Merchant, para geração de energia com turbinas movidas a gás fornecido pela Petrobras. Sendo construída logo depois, a Usina Termoelétrica Norte Fluminense. Essas usinas não somente pela Petrobras, mas também pelas águas do Rio Macaé sediaram a cidade. Além dessas outras empresas como o ABC Supermercados do Grupo Pão de Açúcar e o Sendas, instalaram-se na cidade. O ABC Supermercados com funcionamento 24 horas, tenta atender a necessidade da cidade globalizada.

Até mesmo porque as empresas de offshore não dormem, e não há como parar.

Em virtude desses acontecimentos com a cidade, a Prefeitura de Macaé, que já desenvolvia trabalhos voltados para o desenvolvimento do turismo macaense, uniu o útil ao agradável e hoje trabalha com o intuito de promover o turismo empresarial.

Ainda serão necessárias muitas mudanças, para atrair turistas em geral. Melhorias principalmente no que diz respeito ao lazer, pois a cidade conta com dois micro shoppings e os bares na Praia dos Cavaleiros são os points da cidade. No que diz respeito à área cultural ainda vem deixando a desejar, pois conta com duas salas de projeções com apenas 100 poltronas. No teatro da cidade tem tido com freqüência algumas peças teatrais vindas de fora.

Antonio Alvarez Parada, reflete sobre o desenvolvimento da cidade em seu livro: "Meu Nome, Crianças é Macaé":

 

"Como vocês sabem, pois vivem este momento, estou na era da Petrobras. Já disse e repito: não estava preparada para ela. Mas, após o choque inicial que se tem de absorver a qualquer preço, já estou me ajeitando à nova vida. Meu prefeito em toda essa fase petrobasiana (deixem-me inventar palavras), Carlos Emir Mussi, procurou ajudar-me a enfrentar a nova situação surgida, adotando novos critérios de zoneamento para mim, atualizando meu código de obras. Mas, claro, não pode fazer tudo aquilo que queria e necessário era.

Por isso, nesta altura dos acontecimentos, às vezes paro para pensar. Dou uma espiada geral em mim mesma, vejo a Imbetiba deformada, Cavaleiros transformado em uma nova cidade, a Lagoa de Imboassica com sua paz perdida, todo o meu centro ocupado por prédios altos brotando como cogumelos, minhas sossegadas ruas de ontem transformadas em poluídas pistas e em parques de estacionamento, pela invasão dos veículos motorizados, a Praça Washington Luís remodelada e deixando de ser a Bole-Bole, construções aparecendo por todos os lados, o sossego, restaurantes e casas noturnas proliferando, o índice de criminalidade aumentando violentamente mas minha rede escolar não acompanhando o ritmo de crescimento produtor de novos bairros e da elevação do orçamento municipal acima da casa do bilhão.

Como disse, dou uma espiada em geral e fico pensando: terá valido a pena tudo isto?

De um lado vejo vantagens, e não poucas, trazidas pela Petrobras. De outro os prejuízos advindos do que tive de abdicar devido a ela.

Se fico satisfeita com o progresso chegado a toque de caixa, com o aumento da arrecadação municipal, com o aparecimento de algumas oportunidades de trabalho melhor remunerado para meus jovens, estremeço-me ao constatar, por exemplo, a carestia subindo o sacrifício que isso impôs a boa faixa de minha população, meio marginalizada no progresso instalado."

 

Como o autor cita, não se sabe se terá valido a pena. Entretanto, a grande realidade é que sabemos que o progresso tem seus prós e contras, mas o que hoje vemos na cidade de Macaé não se deve somente à Petrobras, ou ao crescimento por ela estabelecido. E exatamente por essa descaracterização que a cidade recebe Royalties. Esse valor seria uma espécie de indenização pelos males causados por ela.

Macaé tem potencial geográfico e econômico para ser uma cidade bem estruturada e bem planejada. Mas os interesses políticos deixam estagnar o desenvolvimento social, cultural, político e econômico também. E como podemos ver, esses valores não foram investidos na amenização dos problemas ou numa melhor estruturação da cidade. Há grandes conseqüências de falta de vontade política. Alguns administradores da cidade aderiram ao Laissez- faire. O que hoje fica mais fácil deixar a responsabilidade para as empresas estabelecidas aqui.

 

Referências Bibliográficas

 

Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Larousse 1995. Nova Cultural Ltda. 1998 – Volumes 11 e 14.

HIRST, Paul e THOMPSON, Grahame. Globalização em Questão.Petrópolis: Editora Vozes, 1998.

Macaé - Breve história da cidade. Extraída do site oficial do município de Macaé. http://www.ulivi.hpg.ig.com.br/macae2.htm. Acesso em: 20/06/2003

NASCIMENTO, Fábio. Macaé faz a festa com Petrodólares. O Globo, Rio de Janeiro, 08/06/203, Primeiro Caderno/ Economia.

O Município – Apresentação, Aspectos Ambientais, Econômicos, Características Sociais, Cultura, Demografia - História, http://www.macae.rj.gov.br/município. Acesso em 20/06/2003.

PARADA, Antonio Álvarez. Meu nome, Crianças, é Macaé. 1ª Ed. Macaé: Apoio Cultural do Petróleo Brasileiro S.A.