Educação para o Trânsito em Macaé

Leonardo Barreto Pinto
aluno do 4º período do curso de Comunicação Social Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora

Macaé conta hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), com população de 170 mil habitantes. Do final dos anos de 70 até aos anos de 1990 a população dobrou de 65 mil para 111 mil habitantes, um crescimento de 3,53% ao ano, quando a média brasileira é de 1,9%. Com economia vibrante e migração acelerada a cidade viveu, nas últimas três décadas, transformações radicais, uma delas, no crescimento da frota de veículos. Hoje são mais de 54 mil veículos, sendo pouco mais de 34 mil automóveis e 10 mil motocicletas. Sendo cidade do interior, não faltam doenças urbanas, entre elas, o estresse devido ao irritante trânsito. O pesquisador Júlio César de Lima Ramires destaca em seu estudo o quanto a chegada da indústria petrolífera alterou a dinâmica da cidade. “Em 1978 a cidade... foi atingida por um verdadeiro boom, quando a Petrobras implantou o porto que seria o elo com as plataformas de exploração de petróleo... 1000 carros passaram a circular pelas ruas estreitas da cidade”. E é nesse contexto, nas ruas estreitas, que reside, mais visivelmente, a manifestação da atitude individualista do cidadão macaense de hoje. Com sérios problemas de infra-estrutura urbana a cidade vê suas ruas e avenidas se transformarem numa batalha entre o cidadão motorista, o ciclista e o pedestre. São vários os elementos que contribuem para isto: falta de local para estacionar, engarrafamentos, veículos em cima das calçadas, ciclismo pelas calçadas e praças, lixo mal acondicionado, orelhões impedindo parte do passeio, obras que não cumprem as regras do Código Municipal, mesas e cadeiras de bares, toldos abaixo do nível permitido, carroças de cachorros-quentes e, ainda, calçadas esburacadas.

Tais ingredientes tomam forma na atitude do motorista que não respeita o ciclista; do ciclista que não tolera o pedestre, e do pedestre que fica a mercê da falta de políticas urbanas e cumprimento das leis. “A educação para o trânsito é uma questão muito mais ampla que parece. As mudanças de comportamento da qual tanto falam é maior que a questão do trânsito, pois envolve valores, padrões culturais e conscientização”, segundo Gisele Mari Vasconcellos da Silva, especialista em trânsito, mestre em educação, especialista em Educação para o Trânsito no Rio Grande do Sul. Este fato em Macaé ecoa nas problemáticas a que se refere a Professora Adriane Picchetto Machado, Psicóloga Especialista em Trânsito no Estado do Paraná.

“Os serviços de transporte público... estão revelando uma demanda cada vez menor, a ênfase... é o transporte individual. A competição é a regra fundamental, é como se todos fossem inimigos, devendo sempre ser ultrapassados, oprimidos, desrespeitados... O mais forte ameaça o mais fraco... A velocidade é o valor mais importante. Os aparatos normatizadores são obstáculos à ultrapassar, desde placas, radares, lombadas, policiais e agentes de trânsito. Afinal, eles estão lá só para atrapalhar”.

Segundo Roberto DaMatta:

(...) no fundo, vivemos em uma sociedade que existe uma espécie de combate entre o mundo público, das leis universais e do mercado, e o universo privado da família, dos compadres, parentes e amigos. Assim, se sou um cidadão na festa cívica e no comício político, não quero de modo algum ser apenas um cidadão quando estou às voltas com a polícia num caso de roubo. Aqui, a primeira providência que tomo é no sentido de ser logo reconhecido, mas não como cidadão. Espero ser tratado com a máxima atenção, consideração e tolerância. Num caso, o que conta é o indivíduo e o cidadão; noutro, o que vale é a relação.

Na Rua da Igualdade, no centro - próximo à prefeitura - pais de alunos usam os passeios como estacionamento. Segundo um pai, é justificável, pois, não há lugar apropriado. Temos três situações: 1) Justificativa pelo erro; 2) Fraqueza institucional; 3) infra-estrutura urbana inadequada. Tal postura banal pode ter raízes longas. Evocamos Roberto Pompeu de Toledo, no seu ensaio sobre Ônibus, Metrô e Ordem Social (1996), que diz que o apartheid social que caracteriza o Brasil,

(...) numa de suas expressões mais visíveis é o abandono por parte dos mais ricos, dos espaços públicos: a escola pública, o sistema de saúde público, mesmo a segurança pública. E o transporte público. ...o que é público fica reservado aos pobres, como se fosse uma benemerência do Estado, uma obra de caridade, não um serviço a retribuir pelos impostos pagos. O resultado não é apenas que os dois lados nunca se cruzam, pois um deles reservou-se um espaço exclusivo. É também que a escola pública, o hospital ou o transporte público ficam condenados a serviços de segunda classe, privados que foram das pressões de quem mais influência tem na sociedade. Se os ricos tivessem de usá-los, o padrão de exigência sobre eles seria outro.

Em Macaé, não se vê notícia de que políticos aprovem o transporte coletivo pela prática de seu uso no dia-a-dia. Mas o transporte coletivo é para Toledo a saída para o caótico trânsito que atormenta cada vez mais nossas cidades. Não é à toa que o Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran-RJ) prevê que daqui a cinco anos a capital esteja com o tráfego de veículos igual ao de São Paulo. A notícia foi publicada no jornal O Globo do dia 14 de junho de 2008.

O que podemos concluir é que a paz no trânsito deve envolver as escolas, a infra-estrutura e ações mais rígidas quanto aos códigos municipais que estabelecem regras ao bom uso do espaço público. Após tantos anos de influência da indústria do petróleo, somente em 2005 foi criada a autarquia Macaé Trânsito e Transportes (Mactran) com o desafio de “organizar o trânsito em Macaé”, como está no sítio da instituição www.mactran.rj.gov.br. Ali se destaca a criação do sistema integrado de transporte coletivo em substituição ao transporte de vans. No entanto, notícias na imprensa local dão conta de que, a inatividade de alguns terminais que interligavam os pontos, revela um sistema falho: ônibus lotados, saídas e chegadas nada pontuais. Como forma de alcançar os futuros motoristas a Mactran lançou concurso em escolas fundamentais do município para escolha do nome da mascote da instituição, com objetivo de criar afinidade entre os pequeninos e as ações da instituição. O nome escolhido foi Pistinha. Tomara que o diminutivo carinhoso caia no gosto popular porque, falando sério, o que precisamos mesmo é de pistas no aumentativo.

Bibliografia:

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, IBGE – www.ibge.gov.br
Revista Jornal do Brasil Domingo – Ano 19 – nº 936 – 10 de abril de 1994.
RAMIRES, J. C. L (1991) As grandes corporações e a dinâmica sócio-espacial ; a ação da Petrobrás em Macaé Rio de Janeiro – UFRJ- IGEO PPGG; 1991
SILVA , Gisele Mari Vasconcellos da da - Mestre em Educação, Especialista em Educação para o Trânsito e em Ciências da Educação. Técnica Superior em Trânsito do Detran, atualmente cedida ao Conselho Estadual de Trânsito do Estado do Rio Grande do Sul, professora na FIJO/Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Escola Técnica da UFRS. Assessora de Educação para o Trânsito junto à FAMURS.
TOLEDO, Roberto Pompeu Sobre Ônibus, Metrô e Ordem Social Ensaio publicado na Revista Veja, Maio de 1996.
MACHADO, Adriane Picchetto - A relação público x privado na sociedade brasileira – www.perkons.com.br
Sítio Portal do Trânsito – www.portaldotransito.com.br
DAMATTA, Roberto - O que faz o brasil, Brasil?, Ed. Rocco Ltda. , RJ, 2001.
Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro, Detran. – www.detran.gov.br
Prefeitura Municipal de Macaé – www.macae.rj.gov.br
Autarquia Macaense de Trânsito – www.mactran.gov.br

 

Revista Eletrônica Minhoca da Terra #4
Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda
Faculdade Salesiana Maria Auxilidora - FSMA / Macaé-RJ
www.fsma.edu.br/publicidade/minhoca