Cidade da Cultura e do Lazer?

Juliana Marinho dos Santos
Graduanda em Comunicação Social
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora

Resumo

O objetivo do artigo é analisar as opções de cultura em Macaé, refletindo criticamente sobre a disparidade entre o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento cultural da cidade.

Palavras-chave: Macaé ,desenvolvimento econômico, cultura.

 

Abstract

The objective of the article is analyze the options of culture in Macaé, reflecting on the disparity between the economic development and the cultural development of the city.

Key Words: Macaé, economic development, culture.

 

Considerada a capital nacional do petróleo, Macaé sofreu significativas mudanças a partir da instalação da Petrobras no município. A conquista de bons índices econômicos devido às atividades petrolíferas possibilitou investimentos de empresas na cidade, gerando diversas oportunidades de trabalho. Com isso, a “Princesinha do Atlântico” atrai migrantes de diferentes locais do país que buscam emprego e qualidade de vida.

Além disso, entrou para a relação dos melhores municípios para negócios do estado do Rio de Janeiro, ficando atrás somente da capital e Niterói. É de se esperar que, com tantos atributos a seu favor, Macaé ofereça atrativos que façam jus a sua importância nacional. Contudo, os moradores daqui ainda se sentem perdidos em meio a características de cidade do interior misturadas com aspectos de desenvolvimento.

Os habitantes de Macaé estão basicamente divididos em dois tipos: moradores que nasceram na cidade e sempre residiram aqui, cujas famílias têm raízes macaenses, e “moradores” que estão apenas de passagem, a serviço da Petrobras ou de firmas ligadas a ela, ocasionando um grande fluxo de pessoas que chegam e saem a todo o tempo, trazendo e levando cultura.

Será que toda essa diversidade cultural é bem explorada pelos serviços e meios de comunicação locais?
Nos finais de semana, principalmente, há uma grande queixa a respeito de poucas opções de lazer e entretenimento. Há quem afirme que não existe em Macaé coisa alguma para se fazer que não seja trabalho. Tal afirmação não está totalmente correta se levarmos em conta os shows e eventos produzidos no parque de exposições, o cinema, o teatro municipal, os bares, a orla da praia dos Cavaleiros e seus restaurantes, as festas, a biblioteca municipal, etc. Mas a afirmação ganha um sentido verdadeiro quando analisamos a acessibilidade a esses recursos e sua divulgação.

Há um visível equívoco no cenário social de Macaé. O morador macaense parece usufruir de sua própria cidade como se estivesse em condições de turista. As atividades realizadas no município são pouco divulgadas, tornando- se claramente elitizadas. Conclui- se então, que a preocupação maior é com os visitantes e muito pouco com os moradores fixos. Um tanto contraditório, já que o turismo nem chega a ser a principal atividade econômica de Macaé. 

Freqüentar os restaurantes nos dias de sábado à noite para bater papo com amigos e trocar idéias sobre vários assuntos, não é para todos. Os preços e as taxas cobradas estão além da realidade de muitos macaenses. E como muitas coisas aqui são voltadas aos turistas e às pessoas que estão apenas de passagem pela cidade, o lazer em Macaé pode acabar saindo caro demais para seus próprios moradores.

Para aqueles que preferem um bom livro, é um pouco difícil encontrar um lugar em que se possa entrar para ler e tomar um café. Nesse ponto, é preciso concordar inteiramente com os radicais que dizem não haver nada na cidade. Em relação a livrarias e até mesmo sebos, Macaé deixa a desejar. Não há um espaço destinado à apreciação de livros e à troca de informações. Existem sim livrarias, mas com um número reduzido de exemplares e, ma maioria das vezes, é preciso encomendar os livros a serem comprados. O período de tempo entre a encomenda e a aquisição do livro é muito grande, fazendo com que as pessoas se dirijam a outras cidades com essa finalidade.

As peças teatrais, apresentadas no Centro Macaé de Cultura, geralmente são bastante procuradas. Os grandes problemas são sempre o preço dos ingressos e a falta de lugares, pois o teatro não é amplo o suficiente. O mesmo acontece com o cinema, que funciona dentro do Macaé Shopping e possui duas salas pequenas e a qualidade de imagem não é das melhores.

Em contrapartida, na serra o lazer é garantido. Atividades como rapel, tirolesa, e caminhadas, garantem a diversão em meio ao clima agradável e lindas paisagens. Sem dúvidas, as cachoeiras, o forró, as áreas de camping, as festas e o  visual hippie do Sana são atrativos à parte. Espaços que oferecem arte e literatura também são encontrados lá. Outros lugares, como Glicério e Frade, completam as opções de lazer em contato com a natureza.

Um evento que já se tornou tradicional em Macaé é o Fest Verão, que reúne shows de artistas conhecidos e consagrados em todo Brasil durante algumas semanas que coincidem com a época de férias. Ganhou sua própria estrutura na Linha Verde, dividindo- a com outros eventos que acontecem em diferentes datas.

Outra tradição é a Expo Macaé, realizada todos os anos no Parque de Exposições Latiff Mussi Rocha, com o objetivo de comemorar o aniversário da cidade. Além de shows, oferece atividades de esporte, boate, rodeios, parque de diversões, Feira da Indústria e Comércio, leilão de gado, concurso e provas de eqüinos, concurso leiteiro e mostra de pequenos animais.

Mas Macaé não pode ser reduzida apenas a petróleo, shows, praias e belezas naturais. Por isso, este ano, pela primeira vez, acontecerá a Bienal do Livro de Macaé. Será realizada no Centro Municipal de Convenções Jornalista Roberto Marinho - Macaé Centro, considerado o segundo maior centro de convenções e o mais moderno de todo o estado do Rio de Janeiro. O evento promete oferecer uma extensa programação cultural e de lazer, incluindo atividades infantis e café literário, onde a diversão estará por conta do prazer da leitura.

Em relação à organização da bienal, podemos esperar e até perdoar alguns imprevistos e contratempos (o que não é novidade), afinal, será um acontecimento inédito para todos nós. Esse é um grande passo rumo a mudanças extremas na imagem passiva e alheia de Macaé. O que não pode ser perdoado, é a não continuidade do projeto. Estudantes, professores, profissionais do livro e o público em geral precisam ter esse contato com outros mundos, culturas, pensamentos, idéias, visões e opiniões. E nada melhor do que uma realização dessa grandeza para proporcionar tudo isso.

Talvez seja essa uma das maiores necessidades de Macaé: o acesso à cultura. É claro que a cultura se estende a todos, como um conjunto de costumes, crenças, tradições, leis e outros hábitos adquiridos dentro da sociedade. Porém, o macaense, assim como qualquer pessoa, não pode se restringir apenas ao conhecimento que possui. Nesse sentido, é fundamental o alcance a outros conhecimentos, a outros meios, fontes e recursos de cultura, para que estejamos inseridos em todo o contexto mundial.

Muitos dizem que as deficiências aqui encontradas podem ser explicadas pelo fato de Macaé não ter estrutura de cidade grande. Ora, não é preciso ser uma metrópole para oferecer cultura, lazer e entretenimento. É exagero pensar que, de repente, Macaé vai explodir e conter os mais completos recursos culturais do mundo.  Mas o básico é indispensável.

É importante que um jovem estudante tenha o interesse pela literatura e pela arte. E tão importante quanto isso é a possibilidade de colocar esse interesse em prática, buscando o gosto pelo livro, as surpresas das peças teatrais, as aventuras e descobertas dos filmes e o entusiasmo de participar de um evento literário. São esses os cuidados e as preocupações que os administradores de Macaé devem ter ao pensar em cultura. Que não se trata apenas de distração e diversão. Que não somos turistas em nossa própria cidade. Que precisamos admirar, apreciar, debater, criar opinião, concordar e descordar. E que os “interessados” podem ser muitos, e não os poucos de sempre.

 

ReferÊncias BibliogrÁficas

    • Jornal Macaé 192 anos de desenvolvimento – Secretaria de Comunicação social da Prefeitura de Macaé;
    • Laraia, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006;
    • O Debate – 28 e 29 de julho de 2002;
    • www.macaetour.com.br – site da Macaé Tur;
    • www.macae.rj.gov.br – site da Prefeitura de Macaé.

Revista Eletrônica Minhoca da Terra #2
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