Uma Macaé e Um Passado

Joice da Silva Barbosa
Aluna do Curso de Comunicação Social
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora

Resumo

O objetivo do artigo é refletir sobre o passado de Macaé, suas histórias e lendas.

Palavras-chave: Macaé, folclore, lendas.

 

Abstract

The objective of the article is to reflect on the past of Macaé, its histories and legends.

Key Words: Macaé, folklore, legends

 

Macaé “Princesinha do Atlântico”. Esta Macaé (localizada entre duas importantes capitais do Estado, Rio de Janeiro e Vitória) além de ser conhecida por suas belezas naturais, também tem se preocupado com a preservação e revitalização dos monumentos históricos e culturais. Já dizia um escritor Armando Borges que “A história é o facho que ilumina os passos para o futuro; é a ciência social que registra o progresso dos povos; é o arquivo imortal dos tempos, nela as gerações buscam seus princípios e deixam seus fins. Ela é a grande mestra da vida; é depositária de exemplos e corregedora dos que nela não acreditam.”

Tendo em vista a importância desse passado, na primeira parte deste trabalho analisaremos uma dessas relíquias. A Igreja de Sant’Anna, situada no morro de Sant’Ana (hoje uma igrejinha ainda ativa, com missas dominicais) traz consigo a lenda mais popular da cidade. Voltando a 1759, a fazenda foi incorporada aos bens da coroa portuguesa pelo desembargador João Cardoso de Menezes. Naquele ano, os jesuítas foram expulsos do Brasil, imposição feita pelo Marquês de Pombal. A Igreja de Santana foi fundada um século mais tarde, em 1898, no local onde foi erguida a primeira capela dos jesuítas. No início ela foi fundada à margem do rio Macaé e próximo ao Morro de Santana uma fazenda agrícola, que no correr dos anos ficou sendo conhecida como Fazenda de Macaé ou Fazenda do Santana.

Na base do morro, entre este e o rio, levantaram um engenho de açúcar com todas as dependências e lavouras necessárias. Além do açúcar, produziam farinha de mandioca em quantidade e extraíam madeira para construções navais e edificações. No alto do morro foi construído um colégio, ao lado uma capela e um pequeno cemitério (que até hoje guarda os restos mortais de alguns padres).

Conta a lenda, que no século passado uma pequena colônia de pescadores que dado as condições simples de suas embarcações e ao sistema de pesca daquela época, não podiam passar da ilha do Francês. Esta, situada à esquerda da atual ilha do Sant’Antana, que naquela época não tinha nome.

Um francês pescador, junto de seus colegas, resolveu construir um pequeno santuário para que pudessem obter uma força superior para protegê-los. Como todos eram devotos de Nossa Senhora de Sant’Ana, surgiu então a idéia de que a igreja que os padres jesuítas haviam planejado construir no alto do morro deveria ser construída na ilha, mas para isso, era preciso uma manifestação da própria Santa, para que os padres se convencessem da sua preferência. Foi então que algo misterioso aconteceu.

A imagem de Nossa Senhora que ficava localizada no altar do Santuário no morro de Sant’Ana, havia desaparecido. Vários foram os comentários e burburinhos na cidade, até mesmo de que a Santa havia fugido. Somente após dias de busca, um pescador ao chegar a ilha, anunciou o feliz achado. A Santa estava na ilha do Francês.Todos festejaram e seguiram em procissão após o pescador tê-la entregue a um Padre, em direção ao morro do seu nome. Os pescadores que a encontraram garantiram que a santa simplesmente apareceu na ilha, ninguém havia a levado.

Algum tempo depois, o fato novamente se repete. Desta vez os jesuítas mais tranqüilos foram ao porto pra encontrarem com os pescadores e irem em busca da santa fujona. Procuraram incansavelmente e nada encontraram. Os padres e os fiéis começaram a fazer penitencia durante noventa dias pra que a santa voltasse, sob a promessa de que imediatamente construiriam a sua igreja. Dias depois, lá estava ela, sob o altar, a milagrosa Nossa Senhora de Sant’Ana, houve muita emoção dos seus fiéis.

Ficou mais que provado que o milagre era mesmo real. A santa ia e vinha com seus próprios pés.  Surgiram então várias interrogações de como ela teria acesso a ilha?

Até que pela terceira vez, a santa novamente fugiu para a ilha. Desta vez os pescadores tentaram entrar em acordo com os padres, já que ficou mais que provado a preferência da santa pela ilha, eles desejavam que ela ficasse ali e fosse construída uma igrejinha em homenagem a ela. Porém o acordo selado foi que a imagem teria uma capela, mas seria lá no topo do morro de Sant’Ana e que em homenagem a sua paixão pela ilha, esta, ganharia o seu nome, (pois até então não tinha).

Os padres reedificaram o templo, voltando sua fachada frontal para o ocidente onde a Santa não “veria” mais o mar e o arquipélago de onde viera.

Outro fato histórico, que aconteceu no século passado, e não provém de incertezas, nem foi um mito, mais verídico, que teve grande repercussão em todo o País, foi o de Mota Coqueiro, como o suposto culpado da autoria de uma chacina de uma família inteira.

Este histórico erro judiciário que levou a morte Mota Coqueiro, é revelado pela confissão tardia de um desconhecido, de nome Herculano, que momentos antes de morrer, confessa ao seu próprio filho que ele sim teria sido o verdadeiro autor do crime pelo qual Mota Coqueiro havia sido condenado.

Tudo começou quando, Mota Coqueiro, que residia em Campos, político, proprietário de alguns imóveis, resolveu adquirir uma fazenda. A escolhida, foi uma localizada nas terras a margem do Rio Macacu, que havia começado a ser cultivada. Ele se instalou num casarão sede da fazenda e começou a administrá-la. Trouxe escravos de Campos e contratou o seu primeiro capataz, conhecido por Fidélis, logo depois o capataz Domingos, Faustino e Florentino.

Tempo depois, acolheu em sua fazenda o Senhor Francisco Benedito da Silva e sua família, que tão rapidamente já estava progredindo com seu pedacinho de terra cultivando milho, feijão, arroz, café, banana, laranja, abacaxi e etc. Passado um ano, Mota Coqueiro começou a se relacionar com uma das filhas do Senhor Francisco. Num desses encontros, um escravo viu e numa primeira oportunidade contou a esposa de Mota Coqueiro sobre a traição.

Sua esposa, agindo cautelosamente, interrogou-o e ele desmentiu dizendo ser mais uma das calúnias que faziam sobre ele. Aproveitando o fazendeiro disse a sua esposa, o desejo de se desfazer daquelas terras, já que elas o traziam tantos aborrecimentos. Só que ainda não totalmente satisfeita, sua companheira o pediu que colocasse seu Francisco e toda a sua família para fora daquelas terras.

Mota Coqueiro fez algumas tentativas para que o Senhor Francisco se retirasse das suas terras com sua família, como o esperado em todas ele se recusou.
Até que a Senhora sua esposa, contratou alguns escravos pra fazer o serviço, estes foram atingidos, porque o Senhor Francisco reagiu e conseguiu espaçar com vida. O inesperado aconteceu dias depois, que simplesmente assassinaram o Senhor Francisco e toda sua família. Uma verdadeira chacina.

Os assassinos invadiram a casa tarde da noite quando todos dormiam profundamente, com foiçadas e facadas, eliminaram sete pessoas, salvando apenas uma moça que mesmo com braço quebrado pulou a janela do quarto e sumiu na escuridão do mato adentro.

Após a matança os assassinos atiraram fogo na palha da casa, com este procedimento os assassinos impediam, incinerar os corpos e descaracterizar o crime. Porém, caiu uma chuva e apagou a chama, antes que atingisse os cadáveres.

Sem imaginar o que poderia ter acontecido, Mota Coqueiro chega a fazenda e seu capataz Fidélis conta sobre o acontecido. O fazendeiro triste e desesperado já imagina que todos irão lhe culpar pela chacina.

A sociedade campista e macaense ficaram revoltados com o crime, querendo justiça, pressionando a polícia a tomar rápidas decisões. Mota Coqueiro não suportando as acusações como o responsável pelo assassinato, fugiu, se escondendo na casa de um lavrador, onde no dia 17 de Outubro foi preso e levado para Campos. Permaneceu lá por algum tempo e depois foi transferido para Macaé. A população voltou a exigir justiça, até que ele foi condenado no Rio de Janeiro, quando regrediu a Macaé no dia 07 de Março de 1855, numa quarta-feira. O primeiro enforcado foi o escravo Domingos, seguido pelo enforcamento de Faustino e Florentino.

Só por último, Mota Coqueiro, com a corda no pescoço, teria dito que por cem anos não haveria progresso, para que todos se lembrassem da injustiça cometida a ele.

Daí em diante a praga foi justificativa pelo o atraso do desenvolvimento da cidade.

Este foi o último caso de enforcamento no Brasil.

Por muito tempo, as pessoas se recusavam a passar pelo local aonde foi assassinado, dizendo ter visto assombrações e até hoje, dizem ouvir ou verem coisas esquisitas acontecerem no local, localizada hoje no pátio do Colégio Luiz Reid. Seria o Mota Coqueiro?

 

ReferÊncias BibliogrÁficas

BORGES, Armando. Histórias e Lendas de Macaé. 1ª edição. Campos dos Goytacazes: Lar Cristão, 1998.

 

Revista Eletrônica Minhoca da Terra #2
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