O Morro do Carvão de meu avô
Marcelo Domingues Simões
Bacharelando em Comunicação Social
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora
Resumo
A evolução de um bairro em Macaé:
do Morro do Carvão ao Alto dos Cajueiros.
Palavras-chave: Macaé, Planejamento
Urbano, favelização
Abstract
The evolution of a quarter of Macaé: of Mont
of the Coal to the High one of the Cajueiros.
Key Words: Macaé, Urban Planning,
favelização
No começo era um simples caminho de carvoeiros
e nada existia além de árvores que formavam uma quase floresta.
Assim era conhecido o Morro do Carvão.
Caminho de carvoeiros no início do século
passado e que por conta disso, acabou culminando com o nome pelo qual
ficaria conhecido. O “Morro do Carvão” servia como
passagem para esses profissionais e para caminho de trem da extinta Leopoldina
que anos mais tarde passaria a se chamar RFFSA. Através do senhor
Braulino Alves Simões, meu avô, que ali chegou por volta
da década de trinta e alheio a “Golpes de Estado”,
o local começou a experimentar o gosto do desenvolvimento e iniciou-se
a construção das primeiras edificações. Pouco
a pouco, o lugar foi acontecendo e as pessoas costumavam passar o tempo
sentando-se à frente dos portões das casas para uma boa
conversa, sem se preocupar com os “Getúlios” da vida
e as conseqüências de seus planos de governo. Passavam horas
e horas se deliciando com uma boa prosa.
Aos poucos, o bairro foi crescendo, mas, como tudo
na vida tem um mas, era uma época complicada e os problemas financeiros
se faziam presente e com isso o “Morro do Carvão”,
foi crescendo de forma desordenada e desestruturada e para piorar a situação,
sem nenhum apoio do poder executivo, acabou se favelizando. Famílias
de todas as partes chegavam e de qualquer maneira iam se instalando entre
o “Morro do Carvão” e o “Outro lado da vida”,
como era conhecido o atual bairro Costa do Sol. Existia quase nada do
“Outro lado da vida” e de tempos, em função
da péssim qualidade da saúde do município, de lá
saia um cortejo fúnebre, onde apenas o defunto e mais duas ou três
pessoas o acompanhavam.
De sua residência, o senhor Braulino observava aquele ritual e falava à minha avó:
- Dorcas, vamos lá acompanhar aquele enterro.
Olha só, não tem quase ninguém! E lá iam os
dois sofrer as dores daquela família.
Meu avô sempre foi um homem muito respeitado,
trabalhador e orgulhoso do nome da família que ele sempre zelou.
Acostumou a todos os filhos pedirem a bênção ao acordar
e ao dormir e todos os que ouviam falar no nome de Simões, associavam
a gente de bem e isso o enchia de orgulho. Infelizmente o local progrediu,
mas, não prosperou. Cada dia que passava, mais pessoas se aglomeravam
no local sem a menor preocupação com higiene e isso entristecia
muito o coração do meu avô que via o bairro cada vez
mais pobre e abandonado. Pensar em “Morro do Carvão”,
era lembrar de esgotos na rua, crianças encatarradas correndo atrás
de marimbas de pipa, homens desempregados e por conseqüência
disso, bêbados.
Mais tarde, por ocasião do falecimento do meu
avô, no ano de 1979, toda a cidade ficou abalada, tamanho era o
prestígio e carinho que as pessoas sentiam por ele. Naquele dia,
o sol não brilhava tanto. As ruas estavam mais tristes e as lojas
com suas portas arriadas até a metade contemplavam cabisbaixas
o cortejo que por ali passava. As pessoas se aglomeravam e acabou se formando
uma multidão que se misturava aos carros onde até a polícia
militar precisou ser acionada para evitar maiores problemas. Esse dia
será inesquecível. O“Morro do Carvão”
chora a perda daquele que um dia acreditou que houvesse possibilidades
para aquele local e o “Alto dos Cajueiros”, como hoje é
chamado, ganhou uma bela fachada, mas, seu interior continua pobre e abandonado.
A população da cidade não passa por ali temerosa
da “guerra” que se instalou naquele lugar.
O meu avô, com certeza, choraria caso presenciasse
essa situação e, com certeza, seu coração
se palpitaria de tristeza ao ver no que se transformou o seu sonhado “Morro
do Carvão”.
Referências Bibliográficas
Alvarez Parada, Antonio - Pequenas histórias
de Macaé, 1986
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