A Cultura do Boi Malhadinho em Quissamã
Fernanda Soares de Azevedo
Bacharelanda em Comunicação Social
Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora
Resumo
Com este artigo pretendo contar um pouco da cultura
do "boi malhadinho" na cidade de Quissamã, aproximadamente
do ano de 1985 até os dias de hoje.
Palavras-chave: Quissamã,
Boi-Malhadinho, História.
Abstract
With this article I intend to count a little of the
culture of the "boi malhadinho" in the city of Quissamã,
approximately of the year of 1985 until the present.
Key Words: Quissamã, Boi-Malhadinho,
History.
No Brasil inteiro, de Norte a Sul, existem danças
populares onde o boi é a figura central e, junto com os outros
personagens que o acompanham, contando uma história sempre igual
em sua estrutura. É o boi-bumbá no Norte, bumba-meu-boi
no Nordeste e Centro e boi-de-mamão no Sul. Em alguns Estados acontecem
nas festas natalinas e nas festas de junho. Em algumas regiões
do estado do Rio de Janeiro e do Espírito Santo aparece em forma
de manifestação, chamada "boi malhadinho" ou "boi
pintadinho", que atualmente sai no Carnaval. Em Quissamã,
essa brincadeira, como é chamada por quem participa, ainda é
feita, mas cada vez menor.
Segundo Rossini Tavares de Lima (1962), “o boi
maiadinho (como é falado pelos quissamaenses), aparecia nas festas
de Quissamã, durante as festas de São João e Santo
Antônio. Os figurantes eram o 'Boi Maiadinho', 'Mãe Maria'
(cabloco vestido de mulher, com um lenço na cabeça e um
adufo na mão), 'Pai João' (caipira com roupa preta, chapéu
de palha na cabeça e um violão na mão) e tocadores
de viola, chocalhos e gaita ou sanfona. O folguedo desenvolvia-se no centro
de uma roda, com uma espécie de leilão do boi. Mãe
Maria e Pai João, donos do animal, discutiam sobre se deviam ou
não vende-lo, enquanto outros personagens ofereciam isto e aquilo
pelo Boi. Afinal, para satisfazer a mulher, Pai João resolvia ficar
com ele, e o Boi, bufando, no meio da roda, dava um a carreira e metia-se
no mato”.
Alguns anos atrás deixaram de fazer as brincadeiras
do boi, preferindo dedicar-se a um bloco de carnaval que recebia a ajuda
financeira de Prefeitura de Macaé para se apresentar. Um dos fatores
que contribuía para o desaparecimento da brincadeira era a dificuldade
de comprarem o material necessário á confecção
dos personagens, o que requer muitos metros de pano colorido, enfeites
de papel e tinta. Antigamente, tinha a colaboração dos fazendeiros
da região na ocasião das apresentações, tornando
possível à confecção do boi com as contribuições
que davam.
O Boi, além de alegrar e divertir as pessoas,
tem a função econômica de arrecadar doações.
A manifestação também visa estimular a solidariedade
do grupo de vizinhança, difundir e impor os valores da sociedade
tradicional e permitir a realização de vocações
de dançarinos, atores, sendo esta sua função de espetáculo,
tendo também os artesãos que fabricam os personagens.
Com o desaparecimento da brincadeira devido às
dificuldades de ordem financeira, não tendo condições
de arcar com os custos, começa a ter mudanças de costumes,
pois as pessoas deixam de participar da brincadeira e fazem outros tipos
de diversão. Como foi dito acima, a brincadeira acontecia nas festas
de São João e Santo Antônio. Mas atualmente, ela vem
acontecendo no Carnaval continuando como uma forma de divertimento popular.
Como dizia Rossini: “Isso acaba perdendo, porém a função
inconsciente e muito importante de instrumento de controle social”.
Uma vez que a brincadeira diminuía de ano em
ano, os blocos de carnaval passam a ser o espaço de realização
de artistas, cantores, dançarinos. A diversão com a sociedade
toma, pouco a pouco, o lugar da dança popular ligada a sociedade
agrária.
Conforme informações dos habitantes
do lugar em Quissamã, o grupo que se apresentava e se apresenta
até os dias de hoje é composto pelo Boi, por uma Boneca
de dois a três metros de altura, por uma Mulinha, por Pai João,
Mãe Maria e alguns mascarados. A brincadeira, como é chamada
pelos quissamaenses, é a seguinte: o grupo fantasiado, percorria
as fazendas, cantando, dançando e arrecadando contribuições.
Durante a apresentação, o Boi vai para cima de quem o assiste,
provocando medo e tumulto, enquanto Pai João, dono do Boi, tenta
controlá-lo recebendo a ajuda de Mãe Maria. Enquanto o Boi
dança, gira e corre, a Boneca dança protegida pela Mulinha,
que também dança. Os mascarados servem para provocar quem
os assiste fazendo palhaçadas e dando sustos. Durante toda a apresentação
a platéia participa fugindo assustadas ou comentando da beleza
dos bonecos e etc...
Além dos personagens, há a participação
dos músicos que eram um violeiro e dois tocadores de pandeiro,
que tocam e cantam as músicas de acordo com a brincadeira enquanto
os outros participantes dançam. No final da apresentação,
Pai João vai vender o Boi para o dono da casa, o que na verdade
representa a contribuição que este dará. Negociam
peso, utilidade do Boi no trabalho, o seu consumo alimentar e finalmente
o negócio é feito. Essa é a brincadeira propriamente
dita.
O Boi é feito de uma estrutura de bambu, sendo
a parte verde para onde deve envergar dando as formas do animal e para
onde deve ser resistente costumam colocar nem verde e nem maduro. São
amarradas com tiras de câmara-de-ar. Já foi utilizado até
folha de palmeira, barbante e arame em algumas confecções
do boi. Depois era colocada uma caveira secada de Boi e às vezes
eram colocadas cordinhas para fazer os movimentos da cabeça do
boi. O corpo é coberto com panos coloridos.
A Boneca também tem a estrutura de bambu verde
para sustentar o corpo da boneca em vertical. A cabeça da boneca
era feita de madeira encontrada nos brejos. Depois é pintada, sendo
colocados o nariz e orelhas de madeira, uma peruca, brincos, colares,
saia e blusa. São usados mais ou menos 12 metros de pano. Os braços
são de madeira e as mãos de papelão pintado de branco.
A Malinha tem uma cabeça de madeira como a
da Boneca, sendo enfeitada com um saiote de pano. A crina da mulinha era
feita com papel prateado. Um vaqueiro vestia-se de mulinha, onde é
preso no seu ombro por uma corda.
Os Mascarados usam roupas velhas e rasgadas. Têm
as mãos e as cabeças cobertas, com máscaras no rosto,
para não serem reconhecidos.
O Pai João usava um plástico preto,
pintado de vermelho e branco e Mãe Maria, um pano vermelho, ambos
furados nos olhos, boca e nariz.
Naquela época quando a brincadeira saia para
as ruas a polícia tinha que ser avisada, colocando nomes em cada
participante. Mulheres não podiam participar. O dono do boi escolhia
quem iria conduzir os personagens. Geralmente eram escolhidos amigos do
dono do boi mas sempre sendo pessoas que combinavam com os personagens:
os sambistas que gostam de sambar, as pessoas que eram mais evoluídas
e que sabem cantar e dançar. Quem não soubesse não
participava.
Depois da brincadeira, as fantasias eram reaproveitadas
mesmo sendo bastante estragadas. Mas jamais saiam com o mesmo Boi e Boneca.
De tudo que vimos, confirmamos a solidariedade e expressão
da criatividade artística, seja dos que cantam e dançam,
seja dos que confeccionam os personagens. Um número grande de pessoas
é envolvido na apresentação e confecção
do espetáculo e a platéia participa, brincando junto com
todo o grupo.
As razões pelo qual o boi deixou de se apresentar
algumas vezes, como vimos, eram as dificuldades financeiras para montar
e também a dificuldade de arrumar um grupo de pessoas para participar.
Hoje não há mais este problema. Mesmo com o aparecimento
dos blocos de carnaval, que antes tomavam o lugar do Boi, o Boi continua
sendo sempre lembrado nas festas quissamaenses, quase sempre no Carnaval
juntamente com os blocos de Carnaval, sendo chamados hoje de Escolas de
Samba. Ele como os blocos também recebem o apoio total da Prefeitura
Municipal de Quissama e da Secretária de Turismo, Esporte e Lazer
juntamente com a Secretaria de Cultura. Recebem também prêmios
de participação como qualquer bloco carnavalesco. Sempre
procurando lembrar a cultura para as novas gerações que
vêm vindo.
Referências Bibliográficas
LIMA, Rossini Tavares de. Folguedos Populares do
Brasil. São Paulo, Ricordi. 1962
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